segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ondas celulares

Voltando pra casa em um dia desses, meu fone de ouvido deu pau e fiquei sem a música que me acompanha em todas as viagens. A música serve de acústica para que eu tenha o mínimo de concentração na leitura diária em meio aos passageiros tagarelas que me cercam. Um mínimo de conversa já me distrai, principalmente se o texto é um pouco mais complexo do que o normal. Tentei a princípio continuar apesar do falatório. Quando existem duas ou mais conversas paralelas eu até consigo ignorá-las, pois elas formam um barulho só, uniforme, em que não se distingue nada. Mas no caso deste dia em particular havia apenas uma conversa, bem ao meu lado, na verdade um monólogo por telefone da moça que estava falando com seu namorado, falando não, brigando.

É impressionante com a nossa atenção é voltada para coisas tão supérfluas e que não nos dizem respeito. Meu interesse aumentou tanto que desisti por completo da leitura e até guardei em minha mochila com o intuito de não me atrapalhar no acompanhamento dos acontecimentos futuros entre o casal. Não assisto, mas até entendo o fascínio que Big Brother e novela despertam na população. Saber da vida alheia é instigante. Mas a mulher falava alto pra todo mundo ouvir, então não é nossa culpa de ter ouvido tudo. Invasão de privacidade seria se nos aproximássemos para ouvi-la falando baixinho. Mas no caso ela não estava nem ai pra que estivesse ouvindo, então nós estávamos autorizados a desfrutar daquele momento intimo alheio.

Embarquei na história dos dois, embora só ouvisse a versão feminina. Logo nosso entendimento da conversa deve ser visto através de um filtro de incredulidade, já que normalmente a mulher adora distorcer os fatos. Então não podemos julgar algo só com esta versão. Ao que pude entender, o camarada havia pisado na bola com ela na noite anterior onde os dois haviam marcado um encontro no bairro do Paraíso e ele chegou bem mais tarde deixando-a plantada esperando. De acordo com a mesma fonte, ele decidiu resolver todos seus problemas pessoais antes de encontrá-la e por isso se atrasou. Então ele colocou seus interesses pessoais ANTES dela, colocando a no final de uma escala de importância em sua vida.

A partir daí a discussão começou a avançar em relação ao histórico. Nesta hora a mulher é mestre absoluta, resgatando acontecimentos do arco da velha para usar como argumento e provar por A mais B que ele não presta. E às vezes eu achava que eles tinham terminado a ligação porque ficava um silêncio durante um bom tempo. Ela, no caso, era bem paciente e ouvia tudo o que o outro dizia e o cara provavelmente era bem prolixo, deveria ser o Fidel Castro dos relacionamentos, enchendo de argumentos, desculpas e acusações. Ai começa aquelas coisas dizendo que um fez tal coisa e o outro não reconhece. Um faz tudo e o outro não faz nada. Começou a ficar chato bem na hora de eu descer. Sinceramente estou pensando em tratar mal as pessoas. Mulher só gosta de homem cretino.

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