sábado, 29 de março de 2014

Driblando no Anhangabaú

Trabalho próximo ao Vale do Anhangabaú, bem no centro velho de São Paulo, onde ocorrem grandes eventos organizados tanto pelo governo quanto pela população e também tem muitos moradores de rua e cheiradores de cola como também assaltantes em geral. Nunca fui alvo de um apesar de passar por lá diariamente, mas o risco sempre existe.

Numa tarde qualquer, saindo do serviço senti vontade de tomar uma cerveja. O dia foi puxado e sai um pouco com a cabeça ainda se desgrudando do serviço, ainda não tinha me desligado totalmente. Comprei uma latinha e sai caminhando e bebendo. O metrô mais perto era da São Bento, mas eu não queria chegar próximo à catraca do metro e ter que ficar parado tomando a cerveja pra só conseguir entrar assim que esvaziasse a lata. Eu queria ir tomando e quando chegasse na hora de entrar no metro, já estivesse vazia. Então decidi ir caminhando pelo vale e entrar na estação Anhangabaú que ficava do outro lado e pra mim não funcionaria do mesmo jeito. Daria tempo de beber tranquilamente, aproveitar uma leve caminhada de alguns minutos e ainda mais ouvindo uma música no celular.

No meio do caminho vejo vinho em minha direção um mendigo banhado em sangue, com a cabeça toda vermelha pingando, uma cena chocante. Ele estava segurando um jornal amassado na cabeça, provavelmente onde tinha sofrido o ferimento, tentando conter o sangue. A única coisa que eu e outra pessoa que estava passando na hora foi para com uma cara de espanto e observar a cena. Ele passou muito rapidamente, com se estivesse se afastando de algum local, sumindo em alguns segundos ao se dirigir sentido Sta. Efigênia. Fiquei pensando o que teria acontecido, ainda pouco atordoado com a imagem.

Voltei a caminhar para o meu destino original quando vejo três caras vindo ao meu encontro. Não eram mendigos e nem moradores de rua pelas suas roupas, mas tinham uma atitude de malandro de bandido. Aparentemente eram eles que tinham agredido aquele mendigo, pois apareceram quase imediatamente depois. Na minha frente iam duas mulheres juntas e um deles mexeu com elas. Mas como estava perto eles desistiram das moças e vieram diretamente pra mim. Na hora eu me lembrei de um vídeo que tinha assistido naquele dia do perigo de se usar o celular como mp3. O fone de ouvido indica ao ladrão onde esta exatamente o celular a ser roubado. Eu tinha sido pego em flagrante e nem deu tempo de tirar os fones do ouvido já que eles estavam bem diante de mim.

Tentei desviar, mas eles estavam em três e bloquearam a passagem. Na hora pensei no mendigo agredido e no meu celular no bolso, só imaginei o pior. E o cara que tinha mexido com as meninas veio com aquele jeito malandro de andar dizendo: “E esse celular ai?”. Pensei “fudeu!”. Eu ainda estava segurando a latinha de cerveja na mão. Não sei de onde surgiu a ideia, mas executei imediatamente. Estendi a lata, ainda quase cheia, ao cara e ofereci confiante e com atitude: “Quer uma cerveja ai?”. Ele esboçou um sorriso e pegou a lata da minha mão virando para seus comparsas. Neste micro segundo eu me desviei e segui sentido ao metro na mesma hora, driblando-os.

Eu poderia ter sido agredido, ter tido um celular relativamente caro e dinheiro roubados, mas fui salvo por uma cerveja de R$2,50 semi bebida.

terça-feira, 25 de março de 2014

Grupos no bar

Encontros em bares, para tomar uma cerveja, rever amigos, conhecer pessoas novas e conversar sobre os mais variados assuntos é ótimo. Mas outro dia fiquei pensando sobre o papel de cada um que participa numa mesa de bar. Quando todos são conhecidos e se juntam, é mais fácil a diversão de todos, mas mesmo assim causa alguns problemas.

A mesa ideal deveria ser composta de quatro a seis participantes, independente do grau de relacionamento entre eles. Se eles forem amigos, podem conversar sobre um assunto só que os satisfaça e todos contribuem com opiniões. Se forem desconhecidos, podem aos poucos ir se soltando com a ajuda do álcool e conhecendo-os de acordo com suas opiniões. Nesta mesa o assunto é único em que todos compartilham.

Com mais pessoas, a mesa tende a ser maior e as pessoas ficam muito separadas entre si. A pessoa de uma ponta da mesa não consegue ouvir o que o da outra ponta está falando. Neste caso começa-se a abrir duas frentes, duas ou mais conversas paralelas de acordo com a disposição dos integrantes. Se forem amigos não têm problema exceto se o assunto que você tem interesse em conversar está sendo abordado pela outra rodinha.

Agora se são pessoas desconhecidas podem acontecer duas coisas: uma que pode gerar alguma conversa mais interessante de um casal que pode dar frutos depois da noite. Outra que vai gerar um novo grupo de amizades, mas isto depende da abertura que estas pessoas desconhecidas dão. Se forem fechadas, tímidas ou não estiveram muito afim, vai travar e ser uma merda. O legal é que tenha pelo menos alguém conhecido na mesa para se sentar junto, de preferência do lado. Estar sozinho numa mesa em que os outros se conhecem exceto você também não é legal. A mistura de dois grupos seria mais interessante.

Quanto maior a quantidade de pessoas numa mesa pior é, a menos que você esteja ao lado de pessoas das quais compartilha afinidades, que sejam agradáveis e tenha assunto. A quantidade de grupinhos que se formara será imensa e a tendência é que a mesa se disperse. Outro problema de grandes grupos que se reúnem numa mesa de bar é a hora em que todos chegam. O ideal é que eles se reúnam e vão juntos ao local se formando na mesma hora. Dá uma sensação de união. Aquelas mesas em que uns chegam no início e aos poucos vão chegando pessoas novas não é boa por não integrar os novos participantes com os antigos de forma plena. Já chegam separados e as conversas tendem a ser separadas do mesmo jeito, só compartilhando a mesa.

O pior mesmo é quando têm banda e pista de dança, ai a coisa se perde totalmente. O assunto é outro. A idéia é o bar/boteco, com mesa, bebida e comes. Nó máximo uma musiquinha de fundo ou um maluco no violão. Numa balada rolam outras regras que convém uma discussão num texto diferente.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Não existe igualdade

Existe muito desnivelamento no mundo, cada pessoa é de um jeito diferente com suas qualidades e defeitos, ninguém é perfeito. Enquanto uns são mais esforçados no intelecto, outros têm mais gosto por desenvolver o físico. A pluralidade da população, a miscigenação de raças, o diversidade das personalidades é o que dá mais brilho, mais riqueza em cada uma das pessoas. A melhor coisa, em minha opinião é conhecer 10 pessoas com 10 personalidades e físicos totalmente diferentes entre si. O pior é conhecer um grupo de pessoas com o mesmo pensamento bitolado, a mesma chapinha no cabelo e a mesma roupa aceita no grupo, coisa bem chata. Com toda este diversidade é claro que tem gente que se sai melhor dependendo do assunto em que se trata.

Existe um consenso popular na nossa sociedade de que todos somos iguais e que se autodenominar melhor o faz ser um arrogante estúpido. Deve-se ressaltar de que somos iguais perante a lei, mas no sentido de termos as mesmas oportunidades que todos. Mas ninguém é igual e ninguém tem a mesma habilidade que outro. É uma coisa difícil de se fazer não importa o pais, pois sempre quem tem dinheiro e poder dá um jeito e ser beneficiado por causa da influência que exerce sobre o mais fraco. Mas o fato de uma lei existir pregando a igualdade dá certa liberdade ao menor se esforçar em sair do fundo do poço e tentar se sobressair no mundo dos grandes. Depende muito do esforço pessoal.

Além da lei dos homens existe a lei religiosa, baseada na bíblia, de que todos somos filhos de Deus e que nos fez a sua imagem e semelhança e que ele nos ama igualmente. No caso do sentimento pode ser até verdade, não dá nem pra debater intenção e sentimento de um Deus. A lógica diz que sim e a gente quer acreditar nisto. Mas Ele nos fez cheio de problemas. Ele foi injusto com muita gente fazendo nascer com problemas físicos, de saúde e com muitas coisas negativas. Se ele fizesse todos iguais, nunca daria o corpo defeituoso pra um e com saúde pra outro. Somente as religiões que acreditam em outras vidas podem explicar que os defeitos vêm de vidas pregressas, a única lógica plausível que vejo. Enfim.

Ou seja, são duas leis que pregam a mesma coisa. E ambas estão erradas no final das contas. Sempre tem alguém melhor ou pior que você. Podemos citar qualquer assunto, tem alguém que já nasceu melhor que você ou que aprende mais rápido que você. Quantas vezes vemos uma pessoa comer uma coisa e engordar e outra comer o dobro e nada acontecer? E quando alguém estuda um assunto por uma hora e aprende mais rápido do que a pessoa que estudou o mesmo assunto por dez horas? E o que come carne com gordura e fuma igual à uma chaminé tem saúde pra dar e vender enquanto o cara que se cuida e só come vegetais tem colesterol e triglicérides nas alturas? Podemos ter o mesmo direito e oportunidade de concorrer a alguma coisa, mas tem gente que nasceu melhor que você por inúmeras razões que vai ganhar. Nasceu mais forte ou mais inteligente por motivos de genética, de criação ou espiritual, tanto faz. Ele já é melhor que você e mesmo que se esforce, nunca vai chegar a seus pés.

Claro que a maioria das pessoas geralmente se encontra num patamar intermediário que possibilite, com esforço, superar o concorrente. Mas algumas pessoas terão que se esforçarem mais do que outras pra ter alguma chance de competição. A vida é injusta com algumas pessoas, quer você queira ou não.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sonhos de Robô

Sempre fui fã e Asimov desde pequeno, quando li Eu Robô. E desde então sabia que ele era conhecido por ser o escritor com mais gabarito para falar de robôs. Mas ele não escreve apenas sobre isto. Li também a série Lucky Starr onde ele escreve romances sobre um patrulheiro estelar que junto com um marciano passa por vários problemas. Li também um livro chamado Os viúvos negros, coisa totalmente fora da área da ficção científica, pelo qual é conhecido, onde discute problemas existenciais com um grupo de idosos intelectuais, também excelente. Na verdade até hoje nunca li nada dele que não fosse excepcional.

Após muitos anos sem rever sua obra, resolvi pegar o “Sonhos de Robô”, na área mais própria. Inicialmente não sabia, mas também é um livro de contos. Diferente do que eu pensava, os contos não são apenas sobre os Robôs, mas existem outras histórias excelentes sobre ficção científica ou pensamentos sobre a vida. Selecionei alguns dos melhores para comentar.

Sobre robôs: O pequeno robô desaparecido e Sonhos de Robô. O Asimov foi o criados das 3 leis básicas da robótica onde limita a liberdade de ação deles, mas em suas histórias o autor usa de artimanhas para dobrar a lógica comum e colocar o robô em conflito com suas diretrizes. É um exercício maravilhoso tentar raciocinar com o protagonista em como resolver as equações propostas e burlar o problema das leis.

Apesar de serem contos que podem ser lidos independentes dos outros, as histórias pertencem a um mesmo universo, que são geridos pelos mesmos personagens e ambientes e se prestar atenção existe uma cronologia de fundo. Algumas coisas aparecem em mais de um conto como a doutora Susan Calvin, uma robopsicóloga e o computador central Multivac, uma clara referência ao que se tornaria a internet nos dias de hoje. Asimov foi um visionário, prevendo muita coisa que acontece hoje e que tende a acontecer no futuro não muito distante.

Já o que mais me impressionou foi a qualidade dos textos que não se trataram sobre robôs. Toda excelente ficção científica tem uma discussão sociológica profunda de background, por exemplo:

Os incubadores – Sobre um cientista tão inteligente e acima do pensamento dos outros que não vê mais sentido numa vida sem desafios.
A Hospedeira - Discute coisas como a morte por inibição e o advento de uma raça parasita sem que saibamos da existência.
O Fura-greves - Conto que faria funcionários públicos grevistas adorarem e que também discute sobre preconceito.
Verso de luz - Também fala sobre preconceito e de como cada um de nós somos perfeitos nas nossas imperfeições. É Deus que nos cria assim e cada característica que nos define faz parte de nossa personalidade e são coisas valiosas.
O garotinho feio - Sobre a nossa responsabilidade com os experimentos científicos quando envolve outros seres. Hoje em dia pode-se fazer um paralelo com o caso dos Beagles e dos ratos de laboratório de São Roque.
Democracia eletrônica - Uma interessante idéia de como uma eleição poderia ser realizada quando não se puderem consultar os eleitores.
A mulher da minha vida - E se um computador pudesse escolher a mulher perfeita pra gente?

Mas os melhores contos são sobre assuntos existenciais. Asimov era ateu, como todo com cientista, mas pensava sobre a vida após a morte e o sentido da vida. Ele escreveu histórias excelentes como as seguintes:

O que os olhos vêem – Como seria a vida daqui a milhões de anos quando a nossa consciência for mais importante do que o corpo físico. De certa forma ele fala sobre quando o ser humano se tornar espírito.
A última pergunta – Quando o planeta Terra estiver se extinguindo e a entropia começar a fazer efeito no Universo.
A última resposta – O melhor texto que já li dele. Uma pessoa morre e se encontra com um ser do outro lado da vida que lhe explica o que existe no além.

Asimov é obrigatório.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Evento de quase-violência no trem

Sou usuário do trem diariamente para me locomover do meu bairro para o centro da cidade em São Paulo. Mesmo saindo em um horário um pouco melhor da hora do rush, ainda sim enfrento desconforto e problemas nas viagens. Mas vivenciei uma situação incomum e resolvi relatar aqui para conhecimento público.

Para aqueles que não utilizam este meio de transporte, deve ser difícil imaginar ou visualizar a situação que vou descrever, mas é comum ao trem chegar e os passageiros entrarem correndo como uma manada de búfalos para conseguir um lugar para sentar, principalmente se for uma estação inicial como é a Luz. Coloquei até um vídeo ao lado pra se ter noção do que estou falando. O curioso é que às vezes nem é porque existe muita gente, mas é que os ogros querem sentar, apenas isto. O trem, muitas vezes, fica vazio, mas esse povo quer desesperadamente sentar e não medem esforços para isto.

Neste dia não foi diferente. Eu sempre dou um pequeno espaço para os desesperados entrarem e logo depois eu vou. Quando eles entraram se empurrando, um cara alto se revoltou e uns três se estapearam, um dando soco no outro. Dois caras se sentaram correndo e o alto ficou de pé xingando. Este cara alto tinha uma prótese na mão e usava bengala, mas os outros dois nem deram bola. Como eu havia dito, tinha um assento para deficientes vazio, dez metros de distancia de onde os outros dois estavam, no qual o cara alto de bengala se sentou. Mas eles não pararam de trocar insultos, enquanto nós passageiros acompanhavam a discussão de pé.

Em um momento um dos dois caras grita: “Você é muito trouxa, não ta vendo que tem lugar pra você ai.”. O cara de bengala se levantou com raiva e disse “Ah, eu sou trouxa é? Sou trouxa? Deixa eu te mostrar o trouxa.”. Neste momento puxou sua mochila e começou a tentar abrir o zíper. Houve certo momento de pânico entre as outras pessoas. |Umas duas meninas correram e ficaram atrás de mim, me usando como escudo. Eu estava entre os dois, mas não exatamente na linha do tiro e sim um pouco pro lado. Mesmo assim era perigoso. Vai que o cara, com a prótese, mirasse mal? Iria acertar qualquer um.

Enquanto o cara alto de bengala ainda tentava abrir a mochila, uma das mulheres começou a implorar para que ele se acalmasse e parasse o que estava fazendo. Ninguém mencionou a palavra “arma”. Mas todos nós sabíamos o que estava acontecendo. Gelei. Aos poucos ele desistiu e se sentou. O outro que estava xingando estava branco. Esse cara alto já era meio mal encarado, mas não pensava que estivesse nesta vibração. Ele continuou com a cara raivosa toda a viagem e não falou mais nada. O primeiro, que tinha ofendido o de bengala, ao contrário, ficava resmungando em voz alta com seu colega que o outro era um idiota que não precisava ter feito aquilo e tal. Eu só queria enfiar uma porrada neste imbecil. Ele não percebeu que o outro tinha uma arma? Cala esta boca, fica quieto. Ele era tão imbecil a ponto de querer se mostrar o machão para os outros e correr o risco de irritar o outro de novo. Acho que o cara de bengala fingiu que não ouvia esses resmungos, pois não fez mais nada a respeito, graças a Deus.

Com os problemas do dia a dia, a irritação a flor da pele, se as pessoas estivessem armadas haveria mais morte na sociedade. Qualquer briga seria resolvida à bala. É por isso que sou contra a venda e o porte de armas de fogo. Sei que bandido consegue uma arma clandestina quando ele quiser no mercado negro, mas quanto mais restrição houver, melhor para a sociedade como um todo.