segunda-feira, 30 de abril de 2012

Não há silêncio que não termine


Ingrid Bittencourt, ex-candidata à presidência da Colômbia e mais famosa por ter sido raptada pelas FARC, escreveu este livro para contar seus anos de cativeiro.

Eu sempre tive uma curiosidade mórbida de saber como foi que ela conseguiu permanecer praticamente 7 anos na selva amazônica como refém. O que eles faziam?

Em 2006 eu já havia assistido um documentário na HBO contando a história de Ingrid, a corrida presidencial, de como ela era uma jovem e bonita candidata, dos problemas das FARC e de seu seqüestro. Naquela época o filme terminou com uma mensagem contando que ela estava em cativeiro há 4 anos e que ainda não tinha sido solta ainda, como se fosse um filme inacabado, sem final.

Assim que foi publicado este livro, eu queria correr para a livraria para comprá-lo. Aproveitei uma verba para livros que o serviço proporciona e quando liberada, comprei-o.

Como estava lendo A Fúria dos Reis, livro muito extenso, não quis interrompê-lo e deixei para ler depois de terminar o que eu já havia começado. Como eu demorei de terminar, aquele entusiasmo inicial diminuiu um pouco e quando finalmente terminei fiquei até com dúvida se começava a ler este ou um outro que já estava na fila. Pensando racionalmente resolvi atender meu desejo inicial para encarar aquele livro que eu inicialmente estava muito interessado. Como eu estava lendo um livro de ficção, passar para um livro autobiográfico não-ficção e um baque. Eu adoro ambos os estilos, mas eu não salto de um para outro de repente. Geralmente engato uns 5 livros de ficção, depois uns 5 livros não-ficção. A mudança repentina me causa certo mal estar e até pegar o embalo demora um pouco. Mas neste caso não demorou muito pois além da história ser muito interessante, a Ingrid soube desenvolver uma escrita muito fácil de se ler.

O livro é muito interessante. Ela sempre teve a vontade de fugir e tentou isto pelo menos 4 vezes, de acordo com seus relatos. Além dela havia outros reféns que ela teve que ter uma certa relação, alguns amistosa, outros não. A maioria hostil. Essa situação de conflito entre reféns me lembrou muito o filme (e livro) Ensaio sobre a Cegueira. Na história em que todos são cegos e internados em um local. Lá eles desenvolvem relações humanas bem primitivas e brutais de violência como se o homem regredisse à idade da pedra. Da ficção à realidade, a parte em que ela fica em uma espécie de prisão na floresta resgata tudo isso. Ao invés deles se rebelarem contra os opressores, os seqüestradores conseguiam colocar um contra o outro lá dentro.

O cativeiro no início começa mais light, num lugar difícil, mas suportável. Um lugar em que daria pra se viver apesar da privação da liberdade. Mas com o decorrer dos anos, as condições de vida vão piorando até um momento em que o sadismo dos captores vai ao extremo, demonstrando requintes de crueldade devido ao poder que os guerrilheiros tinham em relação aos reféns.

Se o exército não a tivesse resgatado em 2009, acho que ela não sobreviveria muitos anos mais. E graças a Deus vi a notícia em que todos os reféns das FARC serão soltos. Existem pessoas com mais de 12 anos de reclusão. Um absurdo difícil de imaginar, depois de ler os relatos da Ingrid. Um livro que deveria ser obrigatório em todas as escolas da Colômbia, pois os guerrilheiros são muito estúpidos e ignorantes e todos caem no conto da carochinha com aquele discurso batido do comunismo e de Che Guevara. Acho que uma discussão sobre a forma de governo muito válida. Mas NADA justifica um seqüestro. São bandidos, pura e simplesmente. É uma situação única o que ocorre na Colômbia. Em todos os países da América do Sul tiveram tentativas de revoltas populares inspiradas por Cuba, o que fez surgir as ditaduras para combatê-las, mas só na Colômbia esta situação chegou a este ponto. Ainda bem que nós não chegamos a este ponto.

Um comentário:

  1. A história dela é dramática. Não sei se teria nervos para ler um livro sobre isso sabia?
    Big Beijos

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