segunda-feira, 26 de março de 2012

Sonho com Pelé

O começo, que é meio nebuloso, é que eu estou em um barco indo a uma ilha isolada, quase selvagem. O barco é como se fosse uma balsa. A ilha não tem civilização. O que eu vi eram apenas algumas casas bem rústicas em um forte daqueles que foram construídos pelos portugueses há séculos atrás. Na embarcação estávamos com um colega de serviço que estava usando muletas e andava com muita dificuldade. Pensei ser algo na perna, mas do jeito que ele se arrastava, podia ser coisa pior.

O lugar em que entramos tinha uma cara de penitenciária do século 17, tipo aquela do filme Pappion. Até tinha uns guardinhas fazendo uma ronda, mas que nunca chegaram a falar conosco. Não lembro como foi a chegada, mas em um dado momento eu me lembro de estar jogando futebol com meu pai, dois meninos genéricos que eu não sei quem eram e o Pelé, que estava usando uma boina branca e uma camisa bege. O terreno era de descida. O Pelé ficava lá em cima, os dois moleques desesperados correndo atrás dele, depois descendo estava eu e mais embaixo era meu pai. O Pelé chutava a bola alto gritando “pega ai”, a bola passava por mim e sempre alcançava meu pai que dava uma cabeçada nela.

Eu estava louco pra tirar uma foto com o Pelé, estava até com a câmera na mão, mas sempre que eu tentava chegar perto pra pedir, ele saia e ia para outro lugar. Depois quando voltara a gente retornava ao jogo de futebol. Novamente o Pelé dava um chutão, passava por todo mundo e encontrava meu pai lá embaixo pronto pra dar uma cabeçada. E a bola não vinha tranqüila não. Vinha bem forte e dava uma porrada na cabeça dele. E ele estava de óculos. Toda vem que dava uma cabeçada, o óculo afundava no rosto. Eu gritei pra ele “Pai, olha o óculos! Melhor tirar”.

Uma hora a bola passou por um muro e caiu do outro lado. Nesta hora o Pelé começou a escalar o muro pra ir do outro lado, mas a altura era muito grande. Ficamos preocupados com ele pois era um senhor de idade e uma queda daquelas com certeza seria fatal. Meu pai chegou a dizer “que maluco”. Mas como o terreno era íngreme, no lugar no qual me encontrava eu estava mais próximo do topo do muro em relação ao Pelé que estava subindo lá de baixo. Eu estava tão próximo do topo que apenas estiquei a mão para localizar a bola e lá estava ela. Descobrimos que depois do muro não tinha outro vale como o nosso. Depois do muro a terra ficava em cima e a bola estava lá. Então peguei de volta.

Nesta hora apareceu uma tia minha, que é chatíssima, ninguém suporta ela na vida real. Ela chegou e entregou um dinheiro pro meu pai dizendo ser o pagamento do que ela devia a ele. Aparentemente ela vivia ali naquela ilha. Meu pai agradeceu, guardou o dinheiro e já me chamou pra ir embora, se dirigindo para a porta de saída. Fiquei surpreso. Primeiro em descobrir que estávamos ali apenas para cobrar uma dívida e que estávamos jogando futebol com o rei apenas para passar o tempo enquanto ela não vinha. Eu queria continuar jogando com ele e fiquei um pouco decepcionado com o fim abrupto, mas concordei e segui meu pai.

Neste momento apareceu aquele colega de serviço, que parou para falar com minha tia. Aparentemente ele estava sentado vendo nossa diversão ou estava recluso em algum lugar do forte. Mas assim que ela chegou ele saiu para falar com ela. Minha tia ficou com dó dele, dizendo “coitadinho”. Perguntou o que tinha ocorrido e ele disse que tinha quebrado a bacia. Surpreendi-me. E até perguntei “Você quebrou a bacia mesmo?” E ele confirmou. Pra mim a bacia era um lugar muito estratégico e se tivesse qualquer problema, não daria pra sair andando, nem com muletas. Ele nem conseguiria se mexer da cama. Mas ali estava ele, andando conosco. Então esse meu colega começou uma explicação de como funcionava a bacia. E de acordo com a sua explicação, minha mente foi formando a imagem na minha cabeça como se fosse um automóvel. Ele dizia que a bacia era importantíssima para a nossa movimentação, que ela ligava uma série de ossos do corpo e que se houvesse uma ruptura, todas as ligações se romperiam e haveria um colapso na movimentação das pernas.

Enquanto ele falava, minha mente imaginou um motor, como se fosse de carro, se movimentando. Quando tem uma ruptura, voa vários parafusos e as engrenagens começam a colidir e se despedaçam. Como se meu sonho dentro do sonho se tornasse realidade, já começamos a dizer que ele teve azar por ter sofrido o acidente num matagal pois os parafusos de sua bacia se perderam na mata e não tiveram como colocar novamente nas engrenagens.

Pena que foi um sonho bem bobo, sem final. Mas era isso. Eu jogando futebol com o Pelé foi o máximo. Foi a única coisa que me lembrei ao acordar. Quando comecei a escrever fui lembrando das outras coisas.

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