36ºMostra Internacional de Cinema São Paulo
2012 – Alemanha
Filme alemão, mas que conta a história verídica do que acontece com prisioneiros políticos em um dos países mais fechados do mundo: a comunista Coréia do Norte. Shin Dong-Huyk foi um prisioneiro de um campo de reeducação norte coreano que escapou e fugiu do país e conta através de entrevistas sua história de vida.
A vida de Shin é uma coisa muito louca, daria um puta filme ficcional. Seus pais foram presos ou por manifestarem contra o ditador ou qualquer palavra mal interpretada como subversiva, então a família inteira é levada a estes campos durante a noite sem explicação ou julgamento. Lá são forçados a trabalharem a exaustão, passam fome com uma ração mínima e são brutalmente assassinados sem motivo nenhum. Não é permitido falar mal da sua situação ou questionar sua prisão ou tentar fugir. Eles incentivam a delação entre os presos causando mais terror psicológico. Alguns são levados a um presídio lá no campo onde passam por sessões de tortura medievais. Lembrou-me muito o “ministério do amor” do livro 1984 de George Orwell.
Os campos de reeducação são na verdade campos de morte, similares aos campos de concentração nazistas do século passado. Através das memórias de Shin podemos concluir que a era medieval, a dark age, ainda existe em muitos lugares do mundo. É muito fácil falar que estamos mais evoluídos hoje do que antigamente quando estamos vivendo livres nas cidades. Somos a nova burguesia. É só olhar para o resto do mundo para constatarmos que em muitos lugares este estilo de vida não é compartilhado como no oriente médio, em regiões da áfrica e na Coréia do Norte. Hoje assistimos filmes onde os nazistas são os vilões mais sádicos que conhecemos, mas existe tanta crueldade em outros lugares que depois que a gente conhece outros vilões da vida real, os nazistas perdem o status de os mais fodões.
Como não existem imagens reais, o diretor teve uma idéia excelente. Nas vezes onde o Shin narrava os acontecimentos no campo de concentração, é mostrado uma animação onde reproduzia tudo o que ele falava para que nós expectadores víssemos claramente o que acontecia. E uma das coisas que mais me surpreendeu foram as entrevistas com dois ex-oficiais norte-coreanos hoje exilados na Coréia do Sul e que trabalharam nestes campos e que contaram detalhes das maldades que cometeram. Eles contaram claramente o que faziam sem nenhum arrependimento ou vergonha, fazia parte do serviço deles e da rotina matar e torturar. Se fosse no Brasil, nenhum torturador do regime militar fala tão claramente assim diante das câmeras.
Para quem viu o filme “O Leitor” da Kate Winslet teve esta mesma idéia onde uma ex-militar dos campos de concentração obedeceu as ordens de matar judeus nas câmaras de gás. Ai chegamos naquele impasse: um militar é obrigado a obedecer aos oficiais mais graduados sem questionamentos com risco de serem presos e mortos. Ele é realmente culpado dos crimes de guerra cometidos já que estavam cumprindo ordens? Outro filme que trata deste ponto é “Questão de Honra” com Jack Nicholson, onde oficiais aplicam uma punição em outro recruta por causa de uma ordem de um capitão e este recruta morre. Eles são culpados? É um assunto a ser debatido. Mas a princípio vemos como monstros sem coração. Como é possível viver em um ambiente desses? Só mesmo o medo de não ser preso e torturado como seus prisioneiros faria tal coisa. Enfim. Este foi o melhor filme que assisti nesta mostra de filmes internacionais e merece a nota máxima 5 de 5. Imperdível.
Não gosto de assistir filmes com campos de concentração. Big Beijos
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