A banda, seguindo o exemplo que deu em Porto Alegre, entrou com quase meia hora de antecedência do horário marcado. Acho que foram acordar o Ozzy, que estava descansando ai o bicho acordou animadão, cheirou uma carreira e correu pro palco. Do jeito que ele se animou e agitou a galera, nem parecia que tinha 64 anos. A banda toda estava em boa forma, com muita vontade de tocar pra gente. É difícil dizer, mas acho que o público sente esta energia vinda do palco. Eu senti que eles estavam dando tudo de si ali. Sei que é profissionalismo e estavam sendo muito bem pagos para tocar pra gente, mas eu percebi uma entrega de todos os integrantes em fornecer um show digno do nome Black Sabbath e acho que isto foi entregue com maestria.
O começo com War Pigs não poderia ter sido melhor. Só o primeiro acorde grave da guitarra do Iommi já fez o chão tremer e dar aquele frio na barriga. O som estava excelente, acho que usaram o coitado do Megadeth pra ficar ajustando as caixas acústicas. Ao subir as cortinas aparece o Ozzy malucão como sempre e a banda em formação clássica do jeito que a gente sempre sonhou vendo os shows de 1968. Viajei no tempo naquele momento e juro que vi a mesma banda dos primórdios de quando eram apenas garotos de Birmingham tentando fazer um som diferente pra época e com letras obscuras. Quem diria que mais de 50 anos eles estariam repetindo as mesmas músicas pra 77 mil paulistas ensandecidos.
Juro que eu tentei gravar alguma coisa pra ficar pra posteridade. Mas isto se tornou praticamente impossível não só porque o povo ficava empurrando e pulando, coisa que atrapalhava a gravação e tinha o perigo de derrubar meu celular e o mesmo ser pisoteado e perdido pra sempre, mas porque eu também queria aproveitar o show da melhor forma. Depois de War Pigs eu resolvi gravar a música seguinte. Mas qual foi minha surpresa quando Iommi começou o riff de Into the Void mais lento do que o normal fazendo o som reverberar nas gigantes caixas acústicas. Acho que se tivesse um copo de vidro ali ele tinha se quebrado imediatamente. Na hora desliguei meu celular e entrei em estado de completa hipnose e não acreditando no que estava vendo. Into the Void é minha música preferida da banda principalmente por seus riffs fantásticos que espero em um futuro não muito longe estar tocando em minha guitarra ainda não comprada. A música foi tocada a perfeição do jeito que eu queria e sonhava.
Era muito engraçado o Ozzy colocando a mão no ouvido gritando para o pessoal “I can’t hear you”. A galera grita e ele diz “louder”. Mais gritos. E ele repete “louder” umas 10 vezes. Acho que eu sai rouco e com uma dor de garganta forte, fora a dor nas costas de ter ficado praticamente 6 horas de pé, pulando e lutando contra o empurra empurra. Os telões passavam imagens que faziam relações com as músicas tocadas e o set list se baseou nos primeiros quatro discos, coisa que todo fã quer.
Depois de Under the Sun eles tocaram Snowblid, outra música que junto de Into the Void tem riffs fortes e pesados, que embarcamos direto no clima da música. Sabbath é isso, é aquele peso da guitarra com um riff poderoso e constante, deixando o corpo ser levado no ritmo da melodia e a mente coletiva das pessoas entrarem na mesma sintonia das batidas da bateria e do baixo, com a voz cortante e aguda do Ozzy pra dar aquela quebrada necessária na gravidade do som.
Já as músicas do Thirteen, novo disco da banda se encaixaram perfeitamente nas músicas antigas. Quando saiu, eu ouvi uma vez pra matar a curiosidade, mas não ouvi mais. Só peguei para ouvi-lo com cuidado recentemente e percebi que elas têm muita qualidade, chegando a ser tão bom quanto à primeira fase da banda dos anos 70. Age of Reason e principalmente End of the Beginning tem tudo o que o Sabbath sempre fez de melhor e não decepciona os fãs. Normalmente quando tem show de bandas bem conhecidas com músicas já fixadas na mente, este momento do show onde apresentam o novo material é sempre o mais chato e entediante, a barrida do evento. Mas neste caso eu encarei com mais um clássico da banda, este disco já nasceu clássico em minha opinião. É só ouvir os acordes lentos de End of the Beginning pra saber o que eu estou falando, quem conhece a banda e curte não pode dizer que aquele peso não é próprio deles, já nasceu com eles.
Na música Behind the Walls of Sleep jogaram umas luzes coloridas no fundo do palco fazendo o cenário lembrar muito aqueles efeitos toscos dos clipes da banda em Paranoid e Iron Man, novamente nos transportando ao passado e ao que a banda sempre foi. Os primeiros acordes de N.I.B. executados a maestria por Geezer Butler prenunciaram mais um clássico que não poderia deixar de tocar, uma das obrigações da banda em um show recheado de clássicos. Aliás, em matéria de performance ninguém deveu nada, todos tocaram e fizeram performances memoráveis.
Uma das minhas interrogações era o baterista que eu não conhecia. Bill Ward, original, não embarcou no reunion. O Brad Wilk, do Rage Against the Machine gravou o último disco, mas não veio nesta turnê. Então chamaram o Tommy Clufetos, que faz parte da banda do Ozzy. A performance dele é fantástica, digna dos grandes bateristas de metal. Chamou-me a atenção desde a primeira música tocada, do jeito que ele tocava com energia. Existem shows em que o baterista fica praticamente escondido atrás do instrumento e a gente só imagina que ele está lá tocando. Mas neste caso a bateria era bem aberta e visível e dava pra conferir cada batida que ele dava. Toda a estrutura era simples, como se fosse um show há 50 anos, apenas com os instrumentos e com os integrantes em sua posição.
O momento mais forte e especial da noite foi a execução da música Black Sabbath. É indescritível a sensação que deu, só estando lá pra saber. Todas as luzes se apagaram e ficou apenas o símbolo em vermelho, com aquele barulho de chuva no fundo. Eu até desejei que chovesse naquele momento pra deixar o clima perfeito. Então diferente das outras músicas onde apareciam imagens aleatórias, neste caso apareceu apenas o logo da banda parecido com o do disco Master of Reality só que meio embaçado. Naquele momento eu tive certeza de ter viajado no tempo. Os acordes da guitarra eram seguidos em coro por todo o público quase como numa missa satânica, todos sabem que a letra fala sobre o demônio, mas é apenas uma letra e não tem nada a ver com a filosofia da banda. E a risadinha maléfica do Ozzy? Foi um momento muito especial. E eles não precisam nem de fumaça de gelo seco nem de pinturas no rosto ou de fantasias pra dar aquele peso no ambiente.
Tem coisas que ganham o público. O Ozzy é carismático e acho que as coisas que ele faz são genuínas e não é pensado. Que ele tem o cérebro fritado assim como o Keith Richards todo mundo sabe, então alguns comportamentos dele com ficar com aquela cara de perdido e sem saber o que fazer enquanto o Iommi está fazendo um solo já são esperadas e compreendidas, e até um pouco engraçadas, mas nada ridículo. Em outro solo de guitarra ele literalmente se ajoelhou e reverenciou ao colega Tony e ao Butler. Só isso já joga todo o público pro seu lado. Fora as interações com o público que são muito engraçadas. E logo após a música God is Dead ele diz God bless you all. Mais louco que isso impossível.
Paranoid veio pra coroar a noite. Antes eles deram uma palhinha do riff de Sabbath Bloddy Sabbath, talvez a única grande falta no repertório da noite e que merecia ser tocada na íntegra. Mas também se fossem incluir as que faltaram o show ia ter 5 horas. Só de ter durado 2 horas eu já fico feliz, pois os vovôs agüentaram firmes durante toda a performance.
Checked!
Nenhum comentário:
Postar um comentário