No CCBB está em cartaz a peça Pedro e o Capitão, onde mostra a relação entre a polícia da ditadura uruguaia e um preso político. Mário Benedetti escreveu sobre a situação de seu país, mas que pode ser adaptada para qualquer outra ditadura sul-americana, quiçá do mundo.
Logo no início da peça, os dois se encontram na sala de interrogatório onde o prisioneiro está numa situação frágil e o torturador, elegante num terno caro e com uma postura esbelta, está numa posição elevada e com autoconfiança. Existem duas salas, uma onde o preso é torturado fisicamente, escondida do público. E outra seria a tortura psicológica em que o capitão tentará persuadir e destruir as convicções do prisioneiro para extrair tudo o que sabe. Para exercer uma função dessas o interrogador tem que ter muita convicção de sua posição de polícia em relação ao “terrorista” revolucionário. Ele acaba exercendo o papel do “tira bom” em relação ao “tira ruim” torturador físico. Depois que eles espancam o pobre coitado, ele chega destruído para levar mais uma conversa do pretenso cara bom que só quer ajudá-lo a sair desta situação, em troca da revelação de simples nomes do movimento.
No início, pensei que o capitão seria uma figura similar ao do Christoph Waltz em Bastardos Inglórios, um cara controlado e inteligente que apenas com sua argumentação consegue fritar o cérebro da vítima. Mas nesta história não é isto que acontece. O torturador, no final das contas, também é um ser humano que está fazendo um serviço público pago pelo estado e também tem problemas pessoais. O torturador se mostra bastante humano apesar de tudo e o mundo que se encarregou de colocar os dois naquela situação particular em posições antagônicas.
É difícil para nós entendermos como uma pessoa de bem consegue exercer um serviço desses, mas muita gente passou por esta situação. No filme O Leitor, a Kate Winslet faz um excelente papel de uma mulher que no passado, durante a segunda guerra mundial, foi uma oficial nazista que aplicou tudo o que o governo demandava com exemplar eficiência, praxe alemã. Depois teve que se esconder da opinião pública. Tanto Winslet no filme quanto o capitão na peça estavam seguros de estar fazendo seu trabalho exemplarmente. Se está certo ou não é uma questão secundária. Eles não entendem que depois de certo tempo todos vão caçá-los, se acham injustiçados, pois só fizeram o que foram obrigados a fazer. Se não fizessem, não tinham emprego e dinheiro para alimentar suas famílias.
É uma questão ética e de moral. Uma pessoa estaria disposta a fazer um serviço tão cruel e imoral em troca da estabilidade de sua família ou por uma causa? No livro da Íngrid Betancourt, Não há silencio que não termine, fala da mesma coisa em relação às FARC. Eles realmente acreditavam que manter pessoas em cativeiro faria diferença em relação às suas causas. Os fins justificariam os meios.
CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro - SP
Quarta a Sexta, 20h;
Em cartaz: De 10/01/2014 até 19/01/2014
R$ 10,00
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