
Em suas entrevistas, suas perguntas eram curtas e diretas, deixando o entrevistado discorrer a vontade sobre o assunto para, em seguida, quebrá-lo com sua argumentação. Depois de uma resposta bonitinha pra ficar bem na foto Abujamra sempre dizia que nada era importante, que não devíamos levar a vida tão a sério, que deveríamos errar e errar com gosto, em se arriscar dentre outras coisas.
No término das entrevistas tinham duas perguntas que ele fazia em todos os programas. A primeira era se ele não fez alguma questão que o entrevistado queria que ele tivesse feito. A resposta era a próxima pergunta que fazia. E ele representava como se tivesse pensando na hora.
A última pergunta era algo que ele chamava de simples: “O que é a vida?”. Assim que o entrevistado se contorcia para tentar responder uma coisa tão abstrata assim ele repetia a mesma pergunta. O cara, pressionado a dar outra resposta diferente da primeira, se esforçada e entregava outra coisa. Em seguida ele repetia a mesma pergunta pela terceira ou quarta vez até o entrevistado ficar perdido sem saber o que falar.
Eu entendia esta repetição de “O que é a vida?” como um modo de forçar a extração ao máximo da opinião do entrevistado até não poder mais. É como se ele não acreditasse na primeira resposta dada e dissesse: “Bom, na primeira vez você respondeu o que queria que as pessoas soubessem. Agora responda de verdade, sem rodeios, o que você realmente pensa.”. Eu mesmo ficava pensando em casa o que responderia. É algo impossível.
Ao final recitava um texto de algum pensador. Sempre mantinha um caderninho pra anotar suas referências: Sartre, Schopenhauer, Nietzsche, etc. Procurava conhecer o que ele citava em seu programa. Eu o admirava e sentirei muita falta.